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O verdadeiro discipulado

  • Lucas Balbino
  • 8 de jan. de 2016
  • 5 min de leitura


Uma das razões que me levou a escrever sobre esse assunto é devido à crise que a igreja evangélica brasileira está passando. Maioria das igrejas brasileiras esqueceram sobre sua missão, a de ir pregar o evangelho, e ensinar todas as coisas. (Mt 28.19-20)


O momento atual da igreja brasileira é muito delicado. Isso porque, vemos as igrejas locais procurando ansiosamente meios de crescimento numérico, muitas delas, sinceramente, buscando cumprir o mandato de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas que em sua caminhada, tem abandonado princípios inegociáveis da Escritura Sagrada, resultando em negligencia espiritual para a comunidade, o enfraquecimento dos crentes, a toleração do pecado e a promoção de práticas carnais.


Que é mandamento de Nosso Senhor que cresçamos em número, ninguém duvida, contudo, devemos levantar os seguintes questionamentos:


• Qual a verdadeira motivação dos líderes das igrejas?

• Estamos observando um crescimento equilibrado e sadio nas igrejas locais?

• O estilo de vida das pessoas está mudando de fato?


Atualmente, a Igreja Brasileira está sofrendo, porque não enxerga e aplica o Discipulado como o verdadeiro meio de edificação do cristão. Os crentes não são desafiados a fazer discípulos, e, por assim dizer, estão tranquilos com respeito à sua maneira de ser. Olhando para uma Teologia Bíblica do Discipulado, quero levantar questões relevantes a respeito do Discipulado e ao mesmo tempo descobrir implicações práticas deste estilo de vida proposto por Jesus esquecido pelas nossas comunidades cristãs ou maioria das vezes, aplicado de forma antibíblica.


Para que compreendamos o que vem a ser Discipulado, necessitamos recorrer à etimologia de algumas palavras que se nos apresentam nas Escrituras, com respeito a este fato. Necessitamos definir Discipulado em termos gerais e específicos, na busca dos vários significados que o original grego que nos ajuda a discernir o assunto que desejamos tratar.


A primeira palavra que nos traz a mente a ideia de Discipulado é “Akoloutew” (Akolouteo). Traduzida por seguir, denota a ação de uma pessoa respondendo ao chamado do Mestre e cuja sua vida inteira é reformulada e mudada no sentido da obediência. A ideia no grego clássico era de alguém que seguia a Deus ou a Natureza como ideia filosófica, o mesmo se identificava mediante uma incorporação. Esta palavra no Antigo Testamento correspondia à “halak” que dava a conotação de “ir atrás de”. No Novo Testamento, Akolouteo é empregado 56 vezes nos Evangelhos Sinópticos e 14 vezes em João, 3 vezes em Atos, uma vez em Paulo e 6 vezes no Apocalipse. Embora sendo usada algumas vezes para denotar as multidões que “seguiam” a Jesus, ela somente terá uma importância maior quando atribuída ou vinculada as pessoas que estavam seguindo o Mestre.


Alguns textos, principalmente os que estão narrando o chamado vocacional dos discípulos por Jesus usam Akolouteo para evidenciar um convite muito mais desafiador do que diplomático e acadêmico.


Em Mt 9.9, Jesus chama a Mateus e diz “segue-me”. A mesma palavra é usada para o desafio colocado ao jovem rico, onde depois que ele vendesse todos os seus bens e desse aos pobres o mancebo deveria seguir ao Mestre. Quando Jesus fala realisticamente sobre o ser discípulo usa Akolouteo em Mt 8.22 para denotar a prioridade que os seus seguidores deveriam ter para com o seu projeto. O chamado do discipulado não é meramente um chamado para aprender assuntos ou ideias novas, mas um convite desafiador para uma mudança de vida, uma submissão aos interesses do Mestre.


A segunda palavra encontrada é “Mathetes”, (maqhths) “discípulo”. É aquela pessoa que ouve o chamado do Mestre e se junta a ele. É um aprendiz. Raiz da palavra “mantano” (mantano), a palavra era, no tempo clássico, um verbo entendido por “adaptar-se”. Alguém era chamado de Mathetes, quando se vinculava a outra pessoa a fim de adquirir conhecimento prático e teórico. Já no Antigo Testamento, a palavra equivalente no hebraico, possuía uma conotação mais fraca. A ênfase recaía sobre Israel como povo de Deus, no sentido que ele deveria aprender de Deus e se voltar para Ele constantemente. Contudo, a relação entre o “talmid” (aluno) e o seu “moré” (professor) era muito forte especialmente no judaísmo rabínico. O relacionamento entre o aluno e o professor tornava-se uma instituição para o estudo detalhado da Torá.


No Novo Testamento Mathetes tornou-se a palavra para indicar total devoção a alguém. A palavra usada, possuía uma conotação muito forte, onde o discípulo convivia com o mestre, recebendo conhecimento e especialmente no Discipulado de Jesus, estaria disposto a se submeter aos seus interesses e servir.


Outra palavra relacionada ao Discipulado é “mimeomai” (mimeomai), “imitar”. O verbo enfatiza a natureza de um tipo especial de comportamento, modelado em outra pessoa. Segundo Brown¹, “mimeomai” se aplica a pessoas específicas que são obviamente exemplos vivos para a vida da fé. Mesmo sendo o apóstolo Paulo aquele que usa frequentemente esta palavra para motivar seus discípulos a uma vida de imitação, jamais ele se incluía como alvo final a ser imitado (I Co 11.1). Pelo contrário, ele sempre apontava a Jesus que deveria ser a proposta final de imitação e exemplo.


Chegamos à conclusão que Discipulado tem a ver com o próprio fato de ser da igreja de Nosso Senhor. Se analisamos estas palavras, definimos tal ação como a que o Mestre se propôs em seu ministério: Discipular homens, para que os mesmos pudessem, ao final de Sua jornada aqui, fazer com que Seus ensinos e mandamentos fossem sabiamente repassados na perspectiva da obediência, tornando os discípulos seus “seguidores”. Contudo, este “seguir” jamais viria sem um compromisso de vida, de dedicação, de amor e de entrega de vida plena ao Mestre. Conjugado a isto, o Mestre seria o alvo maior, como exemplo e modelo a ser imitado. Já não seria um movimento, mas sim, um estilo de vida que todos os seus seguidores assumiriam diante do mundo e chamariam outros a vivenciarem uma mudança radical em prol da glória de Deus e satisfação de seus corações.


O discipulado visa não somente chamar ou trazer pessoas a Cristo mas, em educá-los e levá-los a um estado de maturidade e adulta comunhão com Cristo e de serviço eficiente na Igreja. Ser discípulo implica num ato de entrega e num processo de obediência. Um homem é discípulo de Cristo, quando permanece em sua palavra, glorifica ao Pai e dá frutos. (João 8.31;15.8) Se tal homem não aprenda a permanecer na palavra e dar frutos no discipulado, ou o discipulado está sendo aplicado de maneira errada ou o homem não compreendeu o que significa ser discípulo de Cristo. O Discipulado é muito mais que absorção de conhecimento intelectual, e sim um estilo de vida que marcaria para sempre a vida dos discípulos.


1 - Brown, Colin - O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento - 4 vols. São Paulo - Edições Vida Nova 1984


 
 
 

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